Chorar é tão importante como rir




Novembro é a altura de recordar os mortos, mas não podemos esquecer os vivos! O ser humano, pelas suas capacidades intelectuais, tomou consciência de que a maior certeza que tinha na sua vida era a morte. Num mundo  cheio de desigualdades e injustiças, a mortalidade é aquilo que nos une.
O segundo dia deste mês é dedicado a homenagear todos os que já partiram e reflectir sobre isso é pensar na experiência mais dolorosa  e intensa que um ser humano pode viver. A tristeza  e o desgosto para os que ficam é uma reação natural e emocional por uma perda significativa, a que chamamos luto. O  processo, invariavelmente, passa pela negação, choque face à  perda, tristeza e a aceitação da perda, que cada um vai vivenciar de uma forma muito própria. Lamentavelmente não existem fórmulas mágicas, mas há estratégias que nos ajudam a ultrapassar este período, entre elas o acompanhamento psicológico. O luto torna-se patológico quando ao fim de seis meses a um ano o indivíduo não aceita a perda e reage como se a mesma não tivesse acontecido. Os amigos e familiares numa tentativa de colmatar o sofrimento utilizam frases que nem sempre são as melhores: “não fiques assim” ou “não chores”. A intenção até pode ser boa, porém é uma má estratégia. Contrariamente àquilo que o senso comum propõe, devemos falar sobre a pessoa que perdemos, recordar os momentos mais marcantes e os mais divertidos. Falar sobre a pessoa que perdemos faz-nos bem, mesmo junto das crianças, usando uma linguagem simples e naturalmente devemos falar sobre quem partiu, devemos inclusive chorar, se sentirmos vontade de o fazer. Existe algum preconceito quanto ao chorar diante dos outros, talvez porque revele alguma fragilidade. Todavia, este é um ato tão importante como rir quando sentimos vontade. Reprimir afetos, sentimentos ou formas de os expressar, nomeadamente o chorar, só vai atrasar ou tornar o processo de luto mais doloroso e potencialmente mais patológico. É importante recordar os mortos, mas não podemos esquecer os vivos!

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